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...entre uma palavra e outra...

“Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”, sábio Fernando Pessoa. Nossas palavras é um modo de expressar o que carregamos dentro de nós. Seja, explicitamente, seja nas entre linhas do que falamos ou escrevemos. Particularmente, sou fascinado por querer entender o que está nas entrelinhas, é um lugar de intensa descoberta do outro que fala ou escreve. Quantas vezes não deparamos com uma negativa e, com um pouco de sensibilidade acabamos descobrindo que um não esconde um sim de todo tamanho. Ora, quando negamos algo estamos afirmando outro ponto de vista. Isso é para aqueles que descobrem o prazer de ler as coisas ao contrário, para quem descobre que um ipê tem muito mais a dizer que simplesmente brotar flores ao final do inverno. Como se vê isso? Abrindo o coração para perceber que as falas estão impregnadas de sentimentos que muitas vezes não se consegue expressar claramente. Vejamos os atos falhos, sabe quando pensamos em falar uma coisa e acabamos falando outra...

Para um ano bão

Há um poema do Drummond que desde que o li pela primeira vez, por esses tempos de fim de ano, me volta a memória, principalmente pelo fato de falar de ano novo, merecimento, mudança. Somos simbólicos pois significamos. Há um sentido no entorno o qual muitas vezes não  temos a consciência, simplesmente estamos inseridos, afetando e sendo afetados. Nessa dialética que nos situamos torna-se possível atribuir marcos, um deles é esse que se aproxima, virada do ano. Em minha cidade existe um fato que marca essa passagem. Em toda virada de ano, as crianças saem cedo de suas casas batendo de porta em porta gritando : "ano bom (bão)!!", as pessoas já preparadas para isso, compram doces para dar as crianças que batem a sua porta. Interessante pensar que por aqui, começamos o ano distribuindo doces a cada desejo de ano "bão" que recebemos. Talvez essa seja a receita que o povo daqui aprendeu para se ter um ano novo, um ano bão! Entretanto quando falamos em novo, pressupomos...

..."borboleta é a pétala que voa"...

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Pegamos os cacos de nosso passado. Como um eterno retorno de nossas mais remotas experiencias em ser pessoa, se tornar gente. Na infância formamos nossa estrutura. Na vida a desenrolamos. Interessante perceber o quanto de nós criança,infantil faz-se presente em datas já tão distantes da primeira experiência. Um jeito, um gesto, uma fuga, uma repetição. Estudiosos da mente nos diz que temos essa compulsão a repetição. Repetimos, de maneira diferente ou não, aquilo que mais queremos mudar. Talvez o maior desejo de todos, é o desejo da liberdade. O que me faz pensar o que significa ser livre nos dias atuais. Há tantas respostas, de cunho religioso ou não, que tudo fica confuso sem uma boa dose de reflexão e discernimento. No clichê que ouvimos pelas esquinas, fala que nossa liberdade vai até onde começa a liberdade do outro. Respeita o moço! Por outro lado, quando lidamos com o outro, quanto mais o conhecemos mais sentimos a liberdade de falar ou mesmo de fazer coisas que outrora não se ...

Sobre quebra-cabeça

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Aquilo que nos move é o mistério. Pessoas são como quebra cabeças. Há várias peças em seus variados formatos de cores distintas. A diferença do jogo é que nunca sabemos qual imagem irá se formar depois que começamos a encaixar as peças. O que é aproxima é que para se montar um quebra cabeça precisamos dispor de tempo, cuidado, paciência e, sobretudo, observação; para se conhecer alguém é preciso dessas mesmas coisas. Ao invés de peças, encaixamos palavras. Tem um cara desses que disse uma vez, “penso, logo existo”, aprendi a algum tempo que existimos principalmente por aquilo que não pensamos. A maioria das coisas que fazemos ou mesmo falamos não exige de nós um tempo de reflexão sobre, atuamos na vida naturalmente, como se tudo já estivesse marcado em nós. E está! Por outro lado, ainda existem aqueles momentos que agimos de tal modo que não esperávamos aquilo que sai do que é considerado nosso padrão, nessas ocasiões, sempre aquele que fala aquilo não era ele, que estava fora de...

Há quem fala que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. ....

De admirar como a vida mostra os seus caminhos. A certeza de uma incerteza. Demoramos para ter essa consciência.  Fazemos planos, colocamo-os em prática, o caminho parece certo, como se o que imagina para o futuro e a realidade fossem uma coisa apenas, mas de repente os pilares que sustentavam todo o caminho sonhado começam a ficar frágeis. rachaduras vão aparecendo pouco a pouco e com o tempo vão ganhando em intensidade até um momento em que simplesmente quebra. São imperceptíveis as rachaduras? Nunca são! A questão não é saber que elas existem, porém, o que fazer com elas.  Uma vez ouvi que era mais fácil destruir uma casa e a construir novamente que reparar rachaduras. Certamente o tempo tem esse poder em nossas vidas, rachaduras, fragilidades, principalmente quando pensamos em relacionamentos. Rachaduras são sinais que a estrutura da construção não está boa. Rachaduras demonstram que a base está em movimento e o que foi construído por cima  já não ...

Variações em uma tarde sem sol...

Se o sol explodisse,  haveria um clarão e teríamos ainda 8 minutos de luz. O tempo que a luz do sol leva para chegar até nós. Por oito minutos ainda teríamos a luz. Sentiríamos calor. Até que tudo fique escuro e frio. Teríamos ainda oito minutos para despedir. Sempre soube que o tempo é algo muito relativo, desde pequeno ouço aquela história sobre uma fala de um cientista, algo parecido com isso: "se passarmos um minuto com a mão por sobre uma chapa quente, esse minuto demorará. Mas se passarmos um minuto na presença de alguém que gostamos, o tempo irá passar e nem sequer o perceberemos". Faz todo sentido. Não, não o sentido lógico, porque ora, um minuto será sempre um minuto (aliás, pensando bem, o que seria o tempo? Não é se não a medida da quantidade de vezes que o relógio faz tic-tac? Sendo um pouco mais modernos, no relófgio atômico, não séria a medida da quantidade de vezes que o átomo movimenta?), mas para pessoa-gente o tempo que se sente, não é nada lógico. Lógico n...

Não sei quantas almas tenh0

  Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem  alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo :  "Fui  eu ?" Deus sabe, porque o escreveu Fernando Pessoa