..."borboleta é a pétala que voa"...

Pegamos os cacos de nosso passado. Como um eterno retorno de nossas mais remotas experiencias em ser pessoa, se tornar gente. Na infância formamos nossa estrutura. Na vida a desenrolamos. Interessante perceber o quanto de nós criança,infantil faz-se presente em datas já tão distantes da primeira experiência. Um jeito, um gesto, uma fuga, uma repetição. Estudiosos da mente nos diz que temos essa compulsão a repetição. Repetimos, de maneira diferente ou não, aquilo que mais queremos mudar.
Talvez o maior desejo de todos, é o desejo da liberdade. O que me faz pensar o que significa ser livre nos dias atuais. Há tantas respostas, de cunho religioso ou não, que tudo fica confuso sem uma boa dose de reflexão e discernimento. No clichê que ouvimos pelas esquinas, fala que nossa liberdade vai até onde começa a liberdade do outro. Respeita o moço! Por outro lado, quando lidamos com o outro, quanto mais o conhecemos mais sentimos a liberdade de falar ou mesmo de fazer coisas que outrora não se havia. O que acontece? Sim, naturalmente, na linha do tempo entre duas pessoas pode criar algo bonito se bem cuidado, intimidade. Mas apenas consigo chegar a o lugar que é íntimo para o outro se esse me deixou entrar, me deu a liberdade, me permitiu existir naquilo que antes desconhecia. Por isso, creio que liberdade é todo lugar em que somos íntimos, todo lugar que conseguimos existir.
Eis, não mais que de repente, surge uma pergunta. O quanto sou livre? Pois ora, nas entrelinhas dessa pegunta, questiona-se, sobretudo, o quanto se conhece de si mesmo e, consequentemente, o quanto se é íntimo de si.
Claro, tarefa para uma vida inteira pela nossa condição limitada sobre a experiencia com o entorno. Não ouvimos tudo, muito menos entendemos tudo o que está em nossa volta. Entretanto, de uma forma ou de outra, somos afetados por onde estamos pois somos seres afetivos. Por isso a sensibilidade para o discernimento. Corremos sempre o risco, como se diz, irmos com a maré.
Em uma sociedade que se prega o absoluto, mediocridades sendo sinônimos de heroísmos. Risco constante de engrenarmos às mediocridades difundidas e nelas depositarmos tudo aquilo que não está bem resolvido em nós, tudo o que de nós ainda não é intimo por não conhecermos ou por conhecermos preferindo uma postura de procrastinação alimentando nossa fantasia do amanhã. A fantasia do palco, da platéia para as palmas do nosso ato heroico. Conto um segredo, talvez, aquilo que podemos fazer de mais significativo em nossa vida é onde ninguém pode nos ver. Uma decisão por exemplo.
Repete-se a vida em atos cômodos. Deseja-se a liberdade, fazendo repetindo a vida.
Hoje li uma frase que muito me chamou a atenção, certo que é mais uma de muitas que referem ao tema, "borboleta é uma pétala que voa", automaticamente já me lembrei de outra que li em uma crônica, "não haverá borboletas, se a vida não passar por longas e silenciosas transformações". Uma completa a outra. É preciso se transformar para ser leve, livre. Na mesma medida, não há o que se transformar para algo que não conhecemos. Preciso se conhecer. Transformar. Fazer novo. Voar...

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