Um breve desabafo


Loucura maior é não desconfiar dos próprios pensamentos. Temos a tendência natural no compreender o mundo, por isso suporta-lo, acreditar em todos os nossos entendimentos das mais diversas ocasiões. É confortável enxergar o mundo com aquilo que temos de bagagem ou com aquilo que queremos enxergar. Como no espelho tudo tem dois lados, toda imagem tem sua outra face, toda imagem tem seu avesso. Querer enxergar o avesso nem sempre é o desejo que queremos desejar, pois, enxergar o avesso seria o mesmo que quebrar paradigmas e, nenhuma quebra se faz sem uma dose considerável de dor.
Duvidar de si é sobretudo, um ato de humildade. Reconhecer que não detemos a verdade absoluta de tudo. Há em todas as tangentes verdades justapostas-contrapostas. No enlace dessas tangentes acontecem os relacionamentos, a consideração da verdade que cada tangente carrega se faz a autenticidade, pois, pelo diferente que nos tornamos únicos. Egoísmo é pensar que há apenas uma tangente que cabe toda verdade. Absoluta verdade é Deus, somos apenas resquícios da semelhança que fora nos proporcionada do Ser. Por isso as mais diversas variantes que encontramos por nosso caminho, por isso as mais diversas variantes que somos. Por isso o que temos em verdade são meras suposições, hipóteses para uma resposta, não absoluta, não feito pedra, resposta efêmera, mutante.
Se a vida é algo de concreto é sua efemeridade. Não ao seu fim, muito menos ao seu começo, porém, em sua travessia. Lutamos para compreender nosso entorno, chegamos a respostas contundentes, bases as quais conseguimos nos situar, sentir segurança, quem sabe até sentir aquela dose de paz e felicidade que todos almejam mesmo em última instância. Mas vem a vida, muito de mansinho, e muda todas as perguntas, todas as hipóteses e, quando menos se percebe todas aquelas estruturas que outrora eram consideradas sólidas e firmes, derretem qual gelo sob o poder do sol. No fundo o que a vida pede da gente é coragem, como já dizia Guimarães Rosa, coragem para fazer infinitas transformações durante a nossa travessia, pois, nada somos de absolutos, somos nada, somos aquele grão de areia que não aparece quando em meio a tantos milhões de outros.
Árida vida, constantemente somos evocados por nossas mais sedutoras fantasias a sermos heróis. Quem nunca pensou em uma vida de heroísmo? Aquele que rompe os limites e todos olham para ele maravilhado com todas as suas qualidades, todas aquelas qualidades que supostamente todos desejam possuir. Todavia, essa vida de heroísmo não existe, embora, isso não signifique que não somos heróis, pois, ao final todos somos. Somos, porque, como diz a música, cada um sabe a dor e a alegria de ser o que é. Os nossos maiores atos de heroísmo é aquele que não é visto por ninguém, acontece quando estamos sós, sem ninguém para ver ou se orgulhar. Árida vida em saber que o que temos é esse espaço do cotidiano limitado que ganhamos a cada dia, árida vida em saber que é nesse cotidiano banal, do todo o dia, que temos para simplesmente sermos apenas um em meio a tantos outros.
Nessa constância de sua inconstância da vida somos inseridos. Para alguns, angústia das mais puras, preferindo, o ferro. Para outros, alegria tamanha, preferindo, o fogo.






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