Um olhar sobre a fome

Saudade é um vazio dentro da alma. Um vazio incoporado por uma presença de uma ausência. Pois sabemos, ao olhar para aquele espaço, falta algo, algo fora arrancado nas premissas do tempo. E quando ela, a saudade, está latente, tudo parece remeter ao que falta. Tudo é substrato para o significado da saudade pairar e formar um símbolo. Geralmente acontece de coisas sem nenhum significado outrora visto, nas coisas mais banais do cotidiano. Ao mesmo tempo, na atuação da memória de saudade, paira sobre as redendosas uma tristeza, como se as coisas não comportassem mais a alegria inscritas nelas, no entanto, nem por isso, sem beleza.
Saudade é algo que se parece muito com a fome. Sentir fome, é também sentir um vazio, sentir que falta algo, ter necessidade de algo. Certa vez em uma dessas aulas um professor falava que a região do célebro que nos avisa que estamos com fome é a mesma que nos avisa que sentimos amor. Fome é a necessidade do corpo, saudade é o fome da alma. Por isso saudade é a resposta mais concreta que somos efetivamente capazes de amar.
Entretanto, muitos confudem o saciar a fome com a aboluta presença. Gosto muito do charuto que minha vó e minha mãe fazem, sempre quando estou na minha terra, em pelo menos um dos almoços em família o prato principal é o charuto (prato principal é apenas uma maneira de falar, pois todos gostamos tanto que não precisa preparar mais nada para acompanhar). Alimento dele como se fosse a primeira vez que o experimento e cada vez mais quabrando recordes de quantos sou capaz de comer (rs!). Todavia, se comesse todos os dias o charuto, ele não teria o mesmo sabor, não sentiria o mesmo prazer em comê-lo. Perderia a fome do charuto e todo o símbolo que dele, pois veja, charuto é sinal de família reunida em torno da mesa da casa de minha vó, falando, entre uma garfada e outra, coisas sem muito importância, mas que falam muito, pois é sinal de presença, comunhão. Algumas vezes aparece para o almoço alguém novo, namorado (a) de alguém ou mesmo um convidado, ai dele (a) de não comer muito charuto....he! Voltando ao excesso, o charuto ficaria enjoativo e não sentiria falta dele.
Por isso o sentir falta, ter o espaço entre um e outro é essencial. Saudade, então, não é algo ruim, mas a esperança que momentos ricos em significados alegres voltarão e saber que eles passaram e nós seremos passarinhos livres a espera de outro momento de saciar a fome.