Vocare

Vocare é uma palavra do latim que traduzida para o português significa: chamado. E, desta palavra deriva-se a palavra vocação. Aparentemente algo muito próximo de profissão, é bem possível unir esses dois, porém, pouco provável. Vocação é aquilo que fazemos por prazer, mesmo se nada ganharmos em troca. Profissão olha-se o ganho do ato feito, não o ato em si. Na vocação a felicidade é encontrada no ato em si. Na verdade, vocação é um chamado para fazer uma experiência de amor.  Por isso também um chamado para o mistério.

Esse chamado não é feito diretamente e claramente alias apenas se torna claro depois do indivíduo passar por um processo de descoberta e abertura. Primeiro é preciso viver e, viver já é por si um dom, dom é aquilo que vem bem antes de nós, um movimento que não dependeu de nossas escolhas ou atos, por isso é Graça! Segundo, é preciso saber enxergar com clareza nossas motivações pessoais, algo que não é uma tarefa simples, para tanto, descobrir-se como ser histórico, como sujeito de sua história faz-se necessário e pela fé descobrir como Deus se entrelaça com seu passado e presente já que viver é uma Graça!

Assim, o importante quando alguém trilha esse caminho é não achar as respostas, essas com a busca surgem naturalmente, importante é fazer as perguntas certas e por isso capaz de ser um instrumento de descoberta do mistério da vida, memória. Com olhar para o passado é que se pode começar a ouvir certa voz, a reconhecer determinado timbre, a descobrir um chamado e deste verbalizar suas inquietações. Isso é um passo de fé. Como bem sabemos não é nossa inteligência que nos abre a fé, há muitas pessoas desfavorecidas na oportunidade de desenvolver-se melhor intelectualmente e consegue abrir o coração para um chamado, a abertura para fé é a memória daquilo que Deus fez na história e na história de quem tem fé. Do mesmo modo a vocação não é uma conclusão de um raciocínio, não é um teorema que nos esforçamos para desenvolver com lógica, trata-se de olhar para o passado para enxergar e discernir o mistério que nos chama.

Melhor dizendo, é na descoberta pessoal que esse caminho se abre, transparece e a travessia torna-se possível, bem dizia Guimarães Rosa: “o importante é a travessia”. Neste caminho não importa muito como começou ou como vai terminar, mas o modo com qual percorremos essa distância entre o início e o fim. De alguma experiência, isso tem haver com o nível de abertura para o diálogo entre as motivações pessoais, as demandas da realidade, do outro e de Deus. Destaco este último ponto, diálogo, relacionar, ter abertura. Sem isso, corremos o risco de fazer de nossas motivações fantasias e, o que seria um caminho rico transforma um caminho ‘mesquinho’ e narcisista.

 Lançar em um projeto de vida e dele dedicar exige muita coragem. Vocação é um chamado para que a pessoa seja ela própria, para que realize suas possibilidades únicas e irrepetíveis. Um apelo de Deus que vem ao encontro de cada ser humano, pessoa. Portanto, descobrir a vocação é descobrir o chamado original para ser eu mesmo, pessoa. Supõe, exige conhecer-me, aceitar-me como sou e ousar dar passos, aprendiz. Como já percebido, vocação tem haver com duas coisas fundamentais, a primeira é fé e esta, relaciona com amor e dom, “Antes mesmo de te formastes no ventre, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. As nações te dei por profeta.”(Jr. 1, 5), como entender isso, com a descoberta de nós, atirar as redes para águas mais profundas do nosso ser. Se for preciso grite, arrisque,para a voz que arde em seu peito verbalize e disso possa fazer da vida um real dom da Graça e do amor.