Vida de artista
“A arte da vida consiste em fazer
da vida uma obra de arte”
Nossa imaginação acontece de dois
modos, podemos imaginar cenas antes contempladas, ou seja, fazer memória de algo
que já se viu. Outro jeito é fazer uma criação de algo nunca visto, criadores,
temos a capacidade de transcendência pela nossa imaginação.
A criação artística está inserido nesse modo
de fazer a imaginação acontecer, as expressões artísticas seja música, poesia,
dança, passam antes pelo ato criador da imaginação e apenas depois que essa
imaginação ganha forma, gestação! Porém todo artista tem que ser capaz de
perceber que não é ele que faz a arte, a arte o faz. O poeta, por exemplo, não
é o poeta que faz a poesia, sim o contrário, a poesia que faz o poeta. Quando o
poeta faz o mergulho em suas significações, encontra ali o sentido que ele
expressa nos seus versos, a poesia já existia, o poeta vai ao encontro quando
sensibilizado por alguma vivencia.
O artista busca a essência das
coisas por sua expressão imanente, através daquilo que traduz toda a cena
imaginada, logo, a expressão artística é a criação através de imagens e
linguagens. Há pessoas que nascem com o dom em alguma área, desde pequenas
pegam um violão e já mostram uma intimidade enorme, outras pegam um lápis e já
escrevem como se fizessem isso há muito tempo, outras ouvem uma música e a
traduz em expressões corporais, encontram a fonte da arte dentro de si ainda
pequeninos, enxergam a essência das coisas sem se esforçarem para tanto. No
entanto, se ficam apenas no dom em si, empobrecem, todos somos potencialmente
capazes de criar algo mas, para isso, é preciso de aprimoramento, estudo. Um
violonista tem que conhecer seu instrumento para saber até onde pode ir com
ele, acredito que é por isso que o homem sentiu a necessidade de criar vários
instrumentos musicais, os instrumentos são limitados, necessitam, em algumas
ocasiões, de complementos. Um violino sozinho é lindo, agora, coloque uma
flauta transversal acompanhando e sinta o efeito. Um escritor tem que saber
como construir suas orações, entender em que modo as utiliza para o efeito
desejado no leitor, não apenas no ato da escrita, para o escritor faz
necessário um contato intimo com a realidade em que ele está inserido, pois,
corre sério risco de escrever fora do contexto, puramente por suas impressões
pessoais. Claro! Sempre há impressão pessoal naquilo que se escreve, mas, não
apenas, somado a isso a realidade nua e crua expressa pelas palavras. A
bailarina, ouve a música e a traduz com seus movimentos corporais, faz jus a
frase “o corpo fala”, essa tradução acontece de forma cada vez mais clara com o
esforço do corpo, com a educação do corpo e, também, com as dores alguns
movimentos deixam no corpo.
Aquele que busca o aprimoramento
e, possui em si a facilidade o dom para o artístico sente que o estudo é apenas
um direcionamento para as suas expressões fluírem com maior naturalidade. Tanto
que em meio a isso, por muitas vezes, sem perceberem aparecem com um arranjo
inovador, um verso marcante, um movimento diferente, ou seja, assimilam tanto o
que fazem que são capazes de ir além. Nos estudos, acreditem, coisas
surpreendentes acontecem, faz coisas insignificantes ganharem profundos
significados.
Todos possuem uma fonte dentro de
si para a arte, alguns como já disse, estão com isso mais aflorado e
direcionado para algo, outros necessitam de mais esforço, porém, mesmo assim
conseguem se expressar por meio da arte. Todos são capazes de criar de alguma
maneira, expressar de alguma forma, apenas precisam entender como fazer isso.
Uma dica: se conheça! Meu professor de violão falava que não existe quem não
possa aprender a tocar violão, apenas que uns precisam de maior dedicação que
outros, confesso que sou um desses para o violão, preciso treinar um tanto mais
para conseguir tirar meus acordes. Mas, pelo gosto e alegria continuo a tocar,
agora, em ser ator, isso sou uma catástrofe, não consigo fingir ou passar algo
que não sinto, alias, consigo até certo tempo, mas depois não consigo mais,
fico muito transparente, todos percebem aquilo que não quero transparecer. Mas
é a vida, há sentimentos que são muito maiores que a gente, não conseguimos
guardar e os expressamos.
Minhas expressões...
Palavra, esta pode ser entendida
como manifestação mais profunda de cada ser, através dela que mundos se
encontram. Não digo apenas a palavra
dita, mas a palavra também não falada, escondida por detrás das palavras
expostas. Assim, o ato artístico possui duas expressões complexadas, o ato em
si e a intenção do ato. O ato em si é a expressão fora do contexto, o
espectador alheio o vê e faz sua interpretação de acordo com o que apetece, por
outro lado, quando se insere o ato num contexto determinado as interpretações são
direcionadas, a intenção do artista é entendida mediante ao direcionamento que
o contexto leva. Uma frase dita pode conter um significado mais profundo.
Música, há várias formas de criar
uma música, faz-se a letra e depois a melodia, faz-se a melodia depois a letra
ou, ainda, faz-se a poesia na ausência de palavras, os instrumentos tocam e o
corpo inteiro responde ao arranjo das notas pelos instrumentos. Falam que o
poeta tem a capacidade de perceber o mundo além do que os olhos vêem, o músico
percebe o mundo além do que os sentidos sentem. Traduzem um sentimento triste
com notas menores, na alegria esbanjam dos acordes maiores. A música possui em
si um tom de liberdade, abre a possibilidade de depois de sua criação sua
reformulação, o músico expressa sua percepção da música pela criação de um novo
arranjo sem perder a essência. Um maestro brasileiro fez algo assim, com o hino
nacional imprimiu sua expressão, recriou arranjos sem perder a essência da
música. Outra comparação, o poeta vê a essência das coisas e arranja as
palavras em versos, o músico enxerga a essência e arranja as notas em música.
No fundo a vida de artista é
sempre uma aventura de ultrapassagem que nos coloca com o mais intimo do que é
ser pessoa e, se não apontar para isso, torna-se algo banal sem significado. O
lugar do artista é onde o tempo fica inerte levando a experiências plenas ao
encontro do outro, a criança tem isso muito enraizado e si, sente livre, não
olha o tempo e está sempre em contato com o outro. Dessa forma, a expressão
nasce do que precede esta, está no que é sonho, no que é alma, no que é
engenho, no que é imaginação, tudo expresso no cotidiano que pede coerência e
autenticidade, na ressalva de que todos nossos pensamentos de crianças merecem
ser colocados em prática.
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