...sobre cartas...
A escrita é antes de tudo uma
expressão. Através das palavras chegamos ao nosso interlocutor e ainda é o meio
que temos que deixar uma marca, uma recordação, passar algum conteúdo. Bem lá
traz na história já temos marcas, nas bibliotecas da antiguidade eram guardadas
aquelas tabuinhas marcadas por formas de expressão da época em barro cozido.
Essas escritas se tornaram marca de uma dada sociedade a qual é passível de
conhecimento pelas marcas existentes nesses barros cozidos. A mensagem é
transmitida de forma intelectual por isso pode ser revivida pelo leitor. Porém
podemos dizer que re-viver o que está escrito também é uma forma emocional já
que para os olhos atentos, interpretações estão intimas a bagagem que o leitor
traz quando toma contato com um texto, poesia, crônica, etc!
Como disse, escrever é expressão.
Por isso é imanada por todos os sentimentos que motivam esse ato, seja, dor,
sofrimento, alegria, carinho, amor. É o modo que se encontra de formalizar as
relatividades do mundo em que vive o qual é dividido pelas infinitas
particularidades de cada pensamento criador. Acaba sendo uma solicitação dos
diversos aspectos de uma verdade que se fragmenta em miríades de diferentes
concepções de cada consciência. Sinto que fui muito formal até aqui...rs...no
fundo, a escrita, a literatura, guarda consigo o dom de irmanar as pessoas.
Quero voltar para um tipo de
escrita esquecida para muita gente: carta! Hoje se utiliza os correios para
enviar pertences, contas, presentes, materiais. Esqueceram de escrever carta.
Existe e-mail, apesar de esse ser capaz de se passar por uma carta, não basta.
Não tem a essência de uma carta. Quando escrevemos uma carta desprendemos um
tempo longe de tudo para pensar apenas na pessoa que queremos enviar a carta,
coisa que não acontece com e-mail, quando escrevemos um e-mail estamos
conectados com todo o mundo pela internet, é muita distração e informação.
Escrever carta é doação específica para uma pessoa naquele pequeno espaço de tempo
que guardamos para escrever, por isso um momento de muita afetividade e
cuidado. Lembro que quando mudei para Juiz de Fora, escrevi muitas cartas para
pessoas amigas e familiares e quando abria a caixinha do correio e encontrava
um envelope com o meu nome na frente era uma alegria de não caber dentro do
coração.
Quando escrevemos uma carta temos
a certeza que em um momento a pessoa estará tocando o mesmo lugar por onde suas
mãos passaram e assim, indiretamente estará de mãos dadas com você. A saudade
que um carta guarda é saciada naquele pedaço de papel. Há saudade que mesmo
você vendo aquela pessoa todos os dias não é saciada, sente a necessidade de
fazer e ter a presença em momentos em que se encontra só, seja escrevendo
(momento de intimidade), seja lendo a carta (momento de partilha intima). A
carta não necessariamente tem que passar pelo correio, pode ser entregue em
mãos para depois quando se estiver só escutar o que aquele papel está a dizer.
Escrevendo para alguém está entregando
todas as verdades fragmentadas que enxergamos de nosso mundo e partilhando com
quem ler. Mostramos pelas palavras o quintal de nossa vida.
Você já escreveu alguma carta?
Não! Vou ensinar, reserve vinte minutos do seu dia. Esvazie-se de tudo e pense
na pessoa que quer partilhar algo de sua vida. Pronto, pensou na pessoa. Agora
pegue a caneta, um papel e comece a escrever, não pense muito enquanto escreve,
escreva aquilo que vier na mente mesmo coisas que considera banais, conta muito
nesse momento, pois não há nada mais bonito que o cotidiano. Permita que seu
pensamento flua. Depois pegue um envelope, escreva o nome da pessoa que quer
entregar a carta e não perca tempo,entregue! Verá que essa troca é muito
gratificante.
Faz algum tempo que não escrevo
carta, hoje tive vontade e vou reservar esse tempo...
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