...memória de um tempo presente...
Não há pior no que se diz em vida
espiritual se não uma vida imersa em uma irrealidade, pois a vida é apenas
sustentada quando em relação vital com as realidades que se encontra fora e a
cima de nós. Quando uma vida sustentada por uma irrealidade, morre, uma morte
estéril. Digo, estéril, pois, há mortes que encontramos vida.
A morte que nos leva a vida nos
possibilita a entrada e não fuga da realidade, mas um dom de nós mesmo que nos
conduz a entrega a realidade. Essa morte não é se não renúncia do que é fantasia,
quando penetramos na realidade, atualidade e verdade que se é possível enxergar
as coisas. Por lado, não podemos ver as coisas em profundidade enquanto as
afagamos, a elas nos agarrando. Quando distanciamos, começamos a vê-las elas
como realmente são em realidade. Uma
imagem disso é o deserto.
O deserto é o que é, não se pode
ser transformado pelos homens, um lugar intocado, logo, o deserto é lugar de
encontro do homem consigo. Ser solitário, pobre e dependente de Deus. Neste
lugar não há interpelações entre o individuo e seu Criador. Porém, deserto é
lugar de encontro com todas as sobras que habitam em cada pessoa, por isso pode
ser também um lugar de desespero quando se consente com o que há de sombra,
reconhecendo isso, há dois caminhos, ficar na loucura que as sombras
proporcionam ou lutar contra as sobras com cor-agem e ter a certeza que
encontraremos a Cristo nisso mas, se não encará-la, não se é possível
encontrar.
Uma vida espiritual não pode ser
entendida apenas por nossa psique apenas mas, também não é apenas sentir,
ambos. Não exclui o pensamento e o sentimento, essas duas esferas estão juntas
em comunhão, pois trata-se de vida. Ora, um vida apenas pautada no pensamento
que leva a substituição das ações pelas idéias, ruína. Viver é adequar o pensamento a vida e da vida
ao pensamento, com experiências de coisas novas antigas e de antigas novas,
logo, a vida é sempre uma coisa nova. Ao mesmo tempo, uma vida espiritual
apenas no sentimento se torna vazia, nossos sentimentos são ‘maliciosos’, não
temos controle sobre eles e, por isso podem nos levar a uma irrealidade sobre o
que realmente estamos passando. Por isso, mister é conjugar essas duas
dimensões de nossas vidas, pensamento e sentimento, corpo e alma. Destaca-se
também nesse viés um perigo, pois podemos cair na ilusão de sermos donos de
nós, ou seja, não uma conquista por nós mesmos, porém uma conquista feita por
nós, algo que pode conduzir ao que não somos na realidade. Melhor, encontramos a
gente quando, na realidade, nos entregamos. Entretanto, antes da entrega, se
faz necessário o conhecimento de nós mesmos, já que não podemos entregar aquilo
que não possuímos.Para essa entrega, antes, preciso reconhecer que o que somos
é dom de Deus, um talento que devemos fazer valer, até que Ele venha.

O controle disso elucidado, nos
leva a autonegação, algo que tende a amadurecer e aperfeiçoar a sensibilidade
de cada um. Necessário se faz uma dose de sofrimento, essa investida sobre o
que somos tem por fim nos purificar e nos enriquecer, de forma que, nosso olhar
fica mais consciente do mundo em nossa volta e sobre nós mesmos. Muitos vendo
essa necessidade recorrem ao deserto da vida e lá nada encontram que os
sustentem para prosseguirem em suas escolhas, para se bancar escolhas precisamos
de algo que as sustentem, pois, lá não tomam a atitude de Jesus quando este
caminho no deserto, uma imensa capacidade de saber o que era de fato, com uma
sensibilidade aprofundada e, ainda, fortalecida contra falsidades, tentações. Recorrem
ao deserto não para se purificarem, recorrem para afirmarem a irrealidade em
que eles vivem.
Apenas somos capazes de fazer
esse movimento quando fazemos a experiência da travessia, sabendo de onde
saímos e onde queremos chegar, não se deseja o que é bom quando não se faz uma
experiência sobre isso, torna-se algo estéril. Onde encontramos isso? Caridade.
Esse ato possui em si todas as virtudes ocultas e em potencia, como as folhas e
galhos que estão escondidas no interior da semente. Este ato, mesmo que em
desejo apenas, já carrega todas as virtudes cristãs em forma de embrião. A
Graça disso é nos mover para fazer dessa potencias um ato: Cristo agindo em
nós.
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