Saudade



Há dentro da gente um lugar onde todos os nossos sentimentos fazem morada, chamo-o de “jardim secreto” o qual apenas nós como guardiões desse espaço temos a chave e neste posto designamos quem pode entrar ou sair. No entanto, muitas vezes esses moradores em muitas ocasiões ficam rebeldes e pulam o muro do jardim sem que os guardiões percebam e quando voltam, geralmente estão acompanhados com alguma memória do que vivenciaram do lado de fora dos muros do jardim. Faz-se um reboliço. Para perceberem isso ouçam uma peça “dança do sabre” entenderam o que quero dizer com reboliço. O que era serenidade própria de um jardim fica na agitação. Lugares que eram considerados intactos se modificam, os caminhos mudam. Sabe quando as nossas respostas não respondem mais as perguntas? A paisagem já não fica a mesma. Tudo fica tomado por uma euforia!
Percebendo a confusão, o guardião entra em ação, entra e tenta colocar tudo no lugar. Pobre, não percebe que o que mudou já não pode voltar para o que era antes, o que move a vida dentro do jardim é outra sinfonia, o que era já não é mais, foi tocado por algo maior do que ele pode dominar. Vendo isso, ele pergunta para o sentimento rebelde:
-Por que foge?
-Tive o desejo de ver o que havia além desses muros.
-E o que encontrou a ponto de criar toda essa confusão?
-O que encontrei, ainda não sei dar um nome. Apenas sei que é algo misturado, com ternura, alegria, sonho, oração, amizade, família, arte, compromisso por fim, mas não finalmente, a poesia. Quando vi esses juntos dançando, não me agüentei e as coisas mudaram para mim. Pois, fui tomado por eles com um desejo de não querer mais deixar. Porém infelizmente tive que voltar...
-Mas essas três coisas que encontrou lá fora, também existem aqui!
-Existir, até existem. Mas não são capazes de criar algo por si.
-Criar algo por si?
-Sim, esses sentimentos só ganham espaço quando encontram algo para que possam se doar, sem isso ficam ‘quietinhos’ aqui dentro.
-Tá, mas e esse reboliço como você explica?
-Fácil, quando somos marcados por algo e isso por diversos modos ganham espaço na gente, a saudade percebe e entra em ação.
-Saudade?
-Ora, guardião daqui a tanto tempo e nem ao menos conhece todos os moradores? Vou explicar: quando a saudade entra em ação percebe-se a presença de uma ausência, como se algo da gente fora arrancado. Tão forte isso, que por onde andamos, ela nos acompanha, pois tudo faz lembrar o que nos ausenta. Como se tudo o que é bonito fica triste. Aprendemos assim que o reencontro trará a alegria de volta e, porque não a serenidade.
-Ainda não entendi...
-A saudade é muito parecida com nossa fome. Fome é nosso corpo dizendo que falta algo, precisa de energia. Assim a fome é a saudade do corpo, logo, a saudade é a fome da alma!
Nesse momento, o guardião entendeu que nada mais poderia fazer, tudo estava mudado, tudo havia um novo arranjo...sensibilizado com o sentimento rebelde, fez duas cópias da chave e o entregou para ele dar de presente com o que ele havia encontrado do lado de fora do jardim e outra para ele. Assim, poderia receber visitas e fazer visitas quando desejassem. Porém, apenas com uma ressalva:
-A saudade terá sempre que existir!
Há moradores em nosso jardim que só ‘mostram a cara’ quando são tocados por algo além dos muros do nosso ‘jardim secreto’ e desse jeito encontram ao que se doar.
Quer saber o nome do sentimento rebelde? Pois é, ainda não inventaram uma palavra que comporte seu nome!

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