De repente o príncipe se torna sapo
Sapos são seres “horrorentos” de
feios, cheios de verrugas por sobre o corpo. Na casa de minha mãe lembro que
virava e mexia por entre os caminhos aparecia essa aberração em nossa frente,
prazer danado em pegar a vassoura e mandar o bicho pelas alturas. Príncipes são
pessoas tidas como cordiais, justos, conhecedor das pessoas em sua volta e
aqui, neste texto, vou considerar príncipe como aquele capaz de se humanizar,
tornar-se uma pessoa melhor para si e para os outros.
Há vários príncipes que viram
sapos e sapos que se tornam príncipes, mas ainda há sapospríncipes e
príncipesapos. Calma, calma, vou explicar! Convivemos com uma pessoa por um
longo tempo descobrimos imensas qualidades, suas fragilidades e, bem em nosso
intimo sem nos darmos conta colocamos o que vemos e sentimos em uma balança
chamada razão. Essa balança diferente das outras não pesa o peso em
quilogramas, afere peso em intensidade. Por ela sabemos sobre o que realmente
vale a pena ser investido, o quão importante é a outra pessoa para nós. E, qual
seria a contra balança? Nossos anseios e sonhos. Quando há um equilíbrio entre
nossos sonhos com aquilo que recebemos do outro...o sapo e torna príncipe.
Mas essa balança que afere
intensidade é sujeita a uma interferência muito grande de algo chamado emoção,
quando a emoção faz força na contrabalança apenas para que o equilíbrio
aconteça, nasce um perigo, nasce um perigo de a gente enxergar sapos em forma
de príncipes ou príncipes em forma de sapos. Nasce a dúvida, como saber se o
que estou vendo é a realidade? Simples, nada de beijo, isso só dá certo em
contos de fadas, aqui no conto da vida, para saber o real tem que jogar o sapo
ou o príncipe contra a parede com todos os seus questionamentos. Se quando fizer
isso o príncipe continuar príncipe é porque é príncipe mesmo e, se o sapo
continuar sapo é porque é sapo mesmo! Ainda há outras possibilidades, o sapo
jogado na parede pode se tornar príncipe ou continuar sapo... ou ainda, fazer
uso do tempo, o tempo tem o poder de colocar as coisas no seu devido lugar, se
por acaso, começar a desconfiar do sapo ou do príncipe, afaste-se, veja o que o
tempo tem a falar, nesse tempo mora a verdade e esta, liberta!
Agora, há uma necessidade de
sinceridade conosco. Por muitas vezes, por diversas influencias colocamos um
óculos que faz ver príncipe em forma de sapo. Os namorados que se encontram em
uma relação fria sabem exatamente que óculos são esses. Eles deixam nossa visão
turva e apenas nos deixa enxergar aquilo que queremos ver. Fragilizados,
acreditam! A sinceridade fica perdida em
meio a ilusão que se cria diante da verdade. Bem dizia um autor, é preciso
desconfiar sempre, tudo o que parece tão perfeito, tão certo, tão
evidente..onde há uma certeza absoluta sobre as coisas, desconfie você pode
estar sendo enganado.
Li um livro esses dias cujo
título é: “O sapo que queria ser príncipe”. Uma autobiografia de certa fase da
vida do autor vale a pena. Pensei comigo depois que terminei de ler, “acho que
todos os jovens querem passar a vida tentando fazer essa transformação”. Bom,
todo jovem com propósito e possibilidades, há pessoas com possibilidades, com
as portas todas abertas que não saem do lugar e há aqueles que nem sequer
chegam perto de alguma possibilidade, a vida foi muito imperadora sobre ele.
Descobri que se tornar esse
príncipe é uma tarefa para uma vida, apenas sou capaz de mudar algo que
conheço, ora, como vou me tornar príncipe se nem ao menos me conheço. Quando
adentramos para a compreensão de nós percebemos que em verdade somos uma
“caixinha de surpresas”, somos capazes de sentir ou fazer coisas quem não
imaginávamos, não quer dizer aqui que não temos as características próprias que
nos marcam como pessoa em identidade, apenas que quanto mais nos conhecemos, mais
a estrada se prolonga. Nesse sentido, carregaremos sempre uma pontinha sapo e
uma pontinha de príncipe dentro de nós.
Somos por muitas vezes afoitos em
deixar nossa marca em algo que fazemos para sermos reconhecidos, queremos
porque queremos ser visto, não sei por que, mas quando penso nesse sapopríncipe
me vem na mente aquela história do narciso. Esse morreu afogado em sua imagem,
não sabia que o sapo tem que respirar fora d’água para sobreviver. Há muito
disso, ficamos rodando em torno da gente mesmo, sobre nossa imagem. Não apenas
aquela que vemos no espelho, mas a imagem que impregnamos nas coisas que
fazemos, procurando bem por onde nossas mãos passam deixa um rastro sobre o que
é a gente em essência. Ficam encantados com o rastro da própria mão. Tão
admirados que não conseguem perceber que o rastro deixado é apenas aquela
“melequinha” que todo sapo deixa por onde passa. Em poder dos óculos, não
conseguem ver esse rastro, afogam-se na própria imagem que supõem que possui,
morre a possibilidade do sapo se tornar príncipe, não permitem ser jogados
contra a parede pela certeza que carregam de ser príncipe.
Algumas espécies de sapos ainda
possuem aquela glândula que secreta um líquido tóxico, os mais antigos falavam
que não se podiam encarar sapos, pois, eles esguichavam o veneno em direção ao
nosso olho. Esses sapos que falo, não esguicham veneno pelas suas glândulas,
mas, envenenam por suas palavras e ações. Usam tão bem as palavras que são
capazes de convencer o que não existe, manipulam para que a realidade se volte
ao seu favor, geram intrigas e, espetos que são, vendo a confusão causada saem
pulando ligeiros para longe. Esses sapos fazem nossos olhos enxergarem o que
não existe, nos levam a não relativizar a realidade, nos cegam com suas
palavras e, por vezes, querem cegar mais ainda por seus atos, ajudam esperando
algo substancial em troca.
Sapos se tornam príncipes quando
questionado em suas falas e ações são coerentes e capazes de reconhecer sua
condição e, ainda, perceber a possibilidade de se tornar algo melhor,
humanizar-se. Príncipes se tornam sapos, quando interpelados por suas sombras
sente uma falsa “plenificação “ em meio a sua escuridão, afasta das pessoas e
com suas sombras faz as pessoas afastarem uma das outras. Quando príncipe se
torna sapo são varridos do caminho.
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